19/12/2009

MiserabLe GrieF


A importância da moda na socialização dos indivíduos é a motivação que impulsiona seu consumo.
A aparência é o principal elemento sinalizador para a aglutinação de pessoas em torno de objetivos comuns. A moda demanda mão de obra e gera riquezas. Mas também uma necessidade psicológica que induz ao consumo exacerbado. Basta apontarmos para a importância da aparência como um sinalizador comum para a inserção das pessoas no mercado de trabalho e para aqueles que ocupam posições importantes na sociedade. Aqueles que ocupam posições socias importantes são “alguém” e os seus opostos são “ninguém”.
A associação do conceito de ser “alguém” está relacionada com a conquista de status, e o de ser “ninguém”, ao estado de solidão e fracasso. Nas tribos urbanas, a condição de pertencimento se dá principalmente pela aparência do corpo vestido como único sinal de status possível para pertencer e transitar pelos diferentes grupos. Todos anseiam por dignidade. Sentir que não tem atenção faz com que o indivíduo se sinta negligenciado, feio e deselegante. O desafio de se sentir abaixo da escala de status imposto por seus pares, interfere na projeção de respeito próprio e auto-estima. O benefício do status elevado é o respeito que deriva do dinheiro, demonstrado através das aparências e da posse de objetos sinalizadores de posse, tanto material quanto cultural.
No amor do mundo há sofrimento, sofrem as almas invejosas ou deficientes de status, seus reveses dolorosos são sugeridos pelos olhares frios e distantes que o “mundinho” elege para desprezar como ninguém. No que diz respeito a moda, o que é eleito como deselegante, outorga a seu usuário a condição de mau vestido, e indigno de pertencer, conviver e representar o grupo que o rejeita, e assim ficando entendido que todo indivíduo mal trajado é um “ninguém” para esta ou aquela tribo. A falta de atenção dos outros afeta a incerteza do indivíduo em relação ao seu próprio valor, assim, o que os outros pensam, vem a ter um papel determinante no modo como ele passa a se enxergar. Nosso senso de identidade torna-se cativo da opinião daqueles com quem convivemos. O desprezo acentua a avaliação negativa que fazemos de nós mesmo, enquanto um sorriso revela o contrário.



Podemos culpar a sociedade em que a compra de objetos de status é psicologicamente necessária e recompensadora para ser respeitado? Sim. Porque subestimar os outros não é passatempo para os que são convencidos da sua própria posição, mas estes costumam ser arrogantes e esnobes. Existe terror por trás da arrogância. O medo atravessa gerações, esnobe gera esnobe. A geração mais velha nega à sua descendência a fundação emocional que permitiria imaginar que o status baixo não equivale a falta de valor, e nem o status elevado, à excelência.
É difícil renunciar as táticas de esnobismo sozinho, a doença é coletivae leva ao desprezo, é a punição que os esnobes impõem aos privados dos símbolos de importância. Ou seja, como se pode ser aceito num mundo de bem sucedidos sem um tênis da moda ou uma roupa da nova coleção?
Sim, a moda é o campo minado da cultura das aparências, pelo desejo de status, a grande maioria se endivida para participar de um mundo ao qual não pertence, mas querem entrar ali de qualquer modo. É preciso considerar a psicologia por trás do modo como decidimos o que é suficiente, o limite da riqueza e estima provém da comparação da nossa situação com a do grupo de referência que consideramos iguais, é o sentimento transmitido pelas realizações superiores daqueles que consideramos nossos iguais que gera desejo e ressentimento. Invejamos apenas aqueles que consideramos como nosso grupo de referência, o êxito dos amigos íntimos se torna intolerável.
O preço que pagamos por esperar ser muito mais do que os outros é uma angústia perpétua,
pois estamos muito longe de ser tudo o que poderíamos ser.



posted by ĐivƟ

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