10/10/2009

No Oriente há duas criaturas que gritam quando o sino da igreja toca. Eles vivem totalmente sozinhos com um estranho corvo malhado. As pessoas dizem que são apenas dois loucos inofensivos. A casa onde moram está cheia de livros dos tipos mais bizarros e pueris, e hora após hora tentam sem sucesso se perder em suas fracas páginas. Tudo o que querem da vida é não pensar. Por algum motivo o ato de pensar lhes é muito terrível, e tudo o que possa agitar suas imaginações os faz fugir, assim como se foge de uma praga. Eles são muito magros e enrugados, mas há quem declare que não são tão velhos quanto aparentam, portanto o medo tem sua garra retorcida sobre eles. Dispensaram amigos e companheiros, pelo simples desejo de não responder a nenhuma pergunta. Os que outrora os conheceram dizem que dá pena vê-los agora. Abandonaram a todos anos antes, e ninguém sabe ao certo se deixaram o país ou simplesmente desapareceram de vista em algum crepúsculo oculto.
Eles tinham vinte e poucos anos mal começados, e quando se mudaram para aquele antigo país sentiram uma estranheza e um ar de vento cósmico. Forçaram amizade onde velhos amigos não ousariam forçar as deles, e maravilhavam-se com o medo que tomava conta dos observadores e ouvintes. E que todos observavam e ouviam ninguém podia duvidar. Mas eles também os observavam e os ouviam mais. E mais com suas mentes que com seus olhos e ouvidos, e lutavam a cada momento para afogar alguma coisa em suas pesquisas incessantes sobre romances alegres e insípidos. E quando o sino da igreja tocava, tapavam os ouvidos e gritavam, e o corvo malhado que com eles morava grasnava em uníssono até que o reverberar da última badalada morresse ao longe.



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